Publicado por: Nuno Gouveia | Setembro 28, 2008

Primeiro Round – Empate técnico?*

O debate não alterou o estado da corrida eleitoral. Ambos os candidatos estiveram seguros e não cometerem gaffes embaraçosas. A postura de Mccain pareceu-me mais sólida, mas este era um debate sobre política externa, e o republicano estava obrigado a vencer de forma categórica. O que não aconteceu.

Podemos dividir o confronto em duas partes distintas. Na primeira, os candidatos discutiram a economia, e Obama esteve mais eficaz. Os americanos culpam a actual Administração pela crise, e o candidato democrata tem sido muito favorecido nas sondagens. Aproveitou-se disso e dominou a parte inicial do debate. Na segunda, Mccain assumiu a sua experiência em política externa, evidenciando uma maior habilidade para lidar com estas questões. Mas Obama defendeu-se bem, em terreno adverso, e acabou, mais uma vez, por recordar a ligação entre Bush e Mccain. Este falou diversas vezes sobre as suas “guerras” com Bush, tentando afastar-se do legado dos últimos oito anos. Mas ontem não terá conseguido separar-se do fantasma, muito por culpa da estratégia de Obama.

* Comentário publicado no Diário de Notícias, 28.09.2008


Respostas

  1. […] Click here to display full story Tagged: Americanos, Bush, Corrida, Crise, Culpa, Debate, Guerras, mccain, Oito Anos, Suas, Tentando […]

  2. Caro Nuno,

    empate técnico? Só para alguns analistas. Aqueles que importam, os eleitores, atribuiram a vitória a Obama. E eu continuo sem perceber essa ideia de que McCain domina no campo da politica externa. Na percepção das pessoas, certamente (embora o debate tenha contribuido para esbater essa ideia), mas analisando ponto a ponto o que foi dito onde é que McCain foi melhor do que Obama a analisar os problemas com que se defrontam os EUA e o mundo? Tirando a questão da negociação com lideres autoritários sem pré-condições, que resulta de um erro de Obama logo no seu primeiro debate na campanha democrata das primárias, mas que entretanto já explicou melhor o que defende, o único momento da noite onde um dos candidatos foi entalado pelo outro foi quando Obama referiu o erro crasso da politica externa americana de ter apoiado incondicionalmente um lider como Pervez Musharraf, ao que McCain respondeu mais uma vez na linha do “Senador Obama doesn’t understand” que o Paquistão era um estado falhado em 1999 quando Musharraf chegou ao poder e que portanto apoiá-lo era a melhor alternativa – que como o Nuno deve saber é uma clara distorção da história do Paquistão.

  3. Caro Nuno,

    Cada um tem as suas obsessões e a minha são os números. A Gallup tracking poll de hoje, que difere da de ontem apenas por conter mais um dia (Sábado) dá 8 pontos de vantagem a Obama (contra 5 ontem). Isto é historicamente dos maiores bounces eleitorais alguma vez associados a um debate nos EUA. Parece até injusto. McCain não esteve assim tão mal. Mas uma diferença de 50-42 não pode ser ignorada.
    A própria Rasmussen (republican leaning) mantém os números de ontem: Obama +6, que são os mais confortáveis que Obama já teve ao longo da campanha.(http://ovalordasideias.blogspot.com/2008/09/gallup-obama-8.html) Desculpe, mas se o critério é a percepção do público, e isto já não são instant polls, parece claro que houve uma penalização forte de McCain de Sexta para Sábado: atribuível ao debate, claramente.

  4. a minha percepção pós-debate foi essa, de empate técnico (que, para mim, favorecia Obama e só Obama – era McCain que tinha de ganhar e ganhar bem).

    mas a percepção de quem interessa, do público americano, como já foi dito nos dois primeiros comentários, não foi essa. os dados existentes, todos eles sem excepção, apontam na mesma direcção. na direcção de Obama. e não em números residuais mas em números significativos.

    o debate deu um impulso óbvio a Obama (ver as sondagens que o Carlos Santos indica acima) – e eu para explicar esse impulso, ao debate junto o tiro no pé que foi a última “jogada de mestre” de McCain.

  5. Caro Carlos,

    “Isto é historicamente dos maiores bounces eleitorais alguma vez associados a um debate nos EUA.”

    A diferença aumentou de 5 para 8 pontos, mas tal pode não dever-se necessariamente ao debate. Como diz a tracking poll da Gallup é constituida pelos últimos 3 dias de sondagem, ora o dia que acaba de cair, o de quarta, foi um dia onde McCain teve resultados muito favoráveis. Veja por exemplo o que diz a própria Gallup:

    “The full impact of the debate and its aftermath will not be reflected in the tracking data until Tuesday’s report, which will be based on interviewing conducted Saturday, Sunday, and Monday. Still, Gallup’s one-day read on the standing of the two candidates on Saturday suggests that Obama held the lead over McCain among registered voters that night, just as he had for the two previous nights.”

    O bounce de Obama já é, portanto, anterior ao debate. E não o sendo, é preciso esperar mais uns dias para ver se houve efectivo “bounce”. Mas na minha análise, este “bounce” não resulta tanto do debate, mas muito mais da entrevista de Sarah Palin e da suspensão de campanha por McCain, que caiu muito mal no eleitorado.

  6. Caro Jorge,

    Você fala de ideologias políticas. Preferindo você a política externa de Obama, nunca iria considerar que Mccain esteve melhor. Tal como quem concorda com as políticas de Mccain nunca iria achar que Obama esteve melhor.

    Na maioria dos analistas que li foi consensual que Obama ganhou na parte económica, e Mccain na parte de política externa. E com este resultado, quem sairia claramente favorecido seria Obama.

    E o que realmente conta é a percepção do público. E essa é evidente, como bem referiu o Carlos. E no final de contas, é isso que influência estas eleições… Não a análise dos analistas, comentadores, interessados, ou pundits..

  7. Caro Jorge,

    Existem filtros complicados para tentar informação diária de tracking polls. O disclaimer da Gallup é o habitual. Já todos sabemos que só terça se eliminam os dia anteriores. Mas uma subida de 3 pontos num dia, é o meu palpite, não se devem apenas a remover o melhor dia de McCain. A sondagem que a Rasmussen detalha em http://ovalordasideias.blogspot.com/2008/09/ramussen-tracking-poll-no-mostra.html sugere mesmo que houve uma mudança de percepções no eleitorado que os episódios de Palin e as jogadas tácticas de McCain não chegam para explicar.

  8. Caro Nuno,

    “Você fala de ideologias políticas. Preferindo você a política externa de Obama, nunca iria considerar que Mccain esteve melhor. Tal como quem concorda com as políticas de Mccain nunca iria achar que Obama esteve melhor.”

    Certo, mas a questão que eu coloco sobre o Paquistão não se trata de um erro subjectivo e ideológio, é um erro de facto. Se você fizer a avaliação dos erros de facto entre Obama e McCain no que toca a conhecimento de politica externa, perceberá que McCain errou mais vezes e com mais gravidade do que Obama (e não me refiro especificamente só a este debate).

    “A maioria dos analistas que li foi consensual que Obama ganhou na parte económica, e Mccain na parte de política externa.”

    Os mesmos analistas que mal terminou o debate preparavam-se para dar como veredicto um empate ou uma pequena vitória para McCain?

    “E o que realmente conta é a percepção do público. E essa é evidente, como bem referiu o Carlos.”

    Caro Nuno, no meu comentário comecei exactamente por fazer notar isso. Mas viu as sondagens da opinião pública sobre a prestação dos candidatos em relação à parte da politica externa? Na melhor das hipóteses, e todas as sondagens consideradas, McCain conseguiu um empate com Obama nessa vertente.

    Mais, entre aqueles para quem a ideologia conta menos, os independetes, veja lá os resultados obtidos na MediaCurves:
    http://mediacurves.com/

    A sondagem da MediaCurves é bastante interessante noutro aspecto. No que toca aos independentes, Obama safou-se melhor na parte da politica externa e segurança nacional do que na parte económica. O que vem de encontro ao que é a minha opinião.

  9. Caro Nuno,

    mais outra ideológica. Artigo de 1982 na Time Magazine:

    http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,922898,00.html?iid=d.

    “In an interview with Pravda, the Communist Party newspaper, Brezhnev rejected President Reagan’s proposal, made earlier this month, that the two leaders meet informally in New York this June after the disarmament talks at the United Nations General Assembly”

    Lembra-se do que McCain disse no debate sobre quando e como é que Reagan decidiu começar a ter encontros com lideres soviéticos? O pior de Bush é que acabou com aquilo que era a revolução Reagan e McCain em nada vem contrariar isso, quando o próprio pouco percebe do que foi a politica externa de Reagan e pouco parece querer adoptá-la. Obama nesse sentido vem mais na linha do que foi Reagan do que McCain.

  10. […] e acabou em empate o primeiro de(em)bate entre os candidatos à liderança do outro lado do Atlântico […]

  11. Caro Jorge,

    Obama na linha de Reagan.. Não acha que está a exagerar um pouco? Se os democratas americanos o ouvem, ainda substituem Obama por Clinton…

    Eu entendo que prefira a política de Obama. Aliás, neste momento, a maioria dos americanos prefere a visão de politica externa dos democratas, à de Mccain e dos republicanos. E percebe-se que os americanos tenham preferido a prestação de Obama, principalmente pela mensagem que transmitiu. Por exemplo, a guerra do Iraque é impopular, e isso torna-se uma dificuldade para Mccain defende-la. Apesar da maioria dos analistas, não comprometidos ou “in love with…”, ter dado ligeira vantagem a Mccain nesta parte do debate, a percepção do público foi diferente, a meu ver, principalmente pelo conteúdo. Acho que isto não é muito difícil de entender o que disse.

    Abraço

  12. Pelo amor de Deus..empate técnico???? Foi uma surra sanguinolenta..nem se compara..Superman jogou emotivamente para a platéia e se faz de vítima..Obama apresenta variáveis interessantes.Se fôssemos comparar com as análises políticas que fazemos aqui no Brasil,diríamos que Mccain faz um oba oba para quem não tem muito discernimento e Obama procura mostrar uma postura convincente de uma maneira globalizada.

  13. Caro Nuno,

    “Obama na linha de Reagan.. Não acha que está a exagerar um pouco? Se os democratas americanos o ouvem, ainda substituem Obama por Clinton…”

    na linha da politica externa não tenha grandes dúvidas que Obama vem mais na linha do que foi a politica externa de Reagan do que McCain. Os democratas nos últimos tempos sempre foram mais belicistas que os republicanos, que isso esteja a inverter-se é absolutamente catastrófico para estes últimos.

  14. Impate técnico?! Chega a ser risível! Mas para aqueles que tentam tampar o sol com a peneira, aconselho que tenham um pouco mais de senso de realidade caso contrário perderá o Bonde da História. Concordo com quem diz que foi uma Foi uma surra sanguinolenta para Obama.

    Abraços


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